domingo, 5 de abril de 2009

UM MUNDO PARA TODOS

por Gilberto Dimenstein

FALANDO GREGO NA FAVELA

Veguinaldo Rodrigues Filho – mais conhecido como Mestre Dinho – resolveu levar a história da Grécia antiga para favelas. Seu objetico era mostrar aos jovens alguns ensinamentos da Filosofia para ajudá-los a enfrentar problemas cotidianos. Mas como falar sobre Sócrates e Platão no período noturno de uma escola de Ensino Médio pública quando os alunos já estão cansados – quase todos trabalham durante o dia – e a Filosofia lhes parece algo confuso e sem conexão com a realidade? “Uma boa provocação estava logo ali do lado, um estádio de futebol”, apostou Dinho.
Cientista social e filósofo formado na PUC, Mestre Dinho aprendeum naquela favela, que a cultura clássica consegue ser absorvida por crianças e jovens desde que esse conhecimento tenha sentido prático em sua vida. Percussionista (daí vem o título de mestre), ele conduz projetos culturais em favelas, onde experimentou, por exemplo, a mistura do samba com ritmos tradicionais da Espanha.
Para ajudar na compreensão da Filosofia dos pensadores gregos, Dinho levou os estudantes para a sala de informática da escola. Fez que, navengando pela internet, vissem imagens dos estádios construídos na Grécia e contou como eles eram utilizados. As festas religiosas, em devoção aos deuses, abrigavam competições esportivas, teatro e poesia. Daí se ergueu uma ponte entre o estádio perto da favela e Atenas, numa viagem de cerca de 2,500 anos.
A noção de Ágora, praça em que se tomavam decisões políticas na Grécia, foi o pretexto para que os estudantes circulassem pelas redondezas e discutissem o significado de espaço público. “Pode-se mostrar como os conceitos de cidadania nascem com as cidades gregas.” Civitas é a tradução do grego polis e está na raiz das palavras “cidade” e “cidadania”. “Basta apenas olhar a paisagem da desigualdade para relacionar o que acontece hoje numa favela com os debates na Grécia sobre cidadania e justiça”, finaliza.

PALAVRA DO AUTOR

Platão e o mito da caverna

Em uma das passagens mais conhecidas de toda a história da Filosofia, Platão cria uma alegoria para mostrar sua Teoria das Formas ou das Ideias. O mito da caverna faz parte do livro VII de A República, obra de maturidade do autor.
A República é um diálogo entre Sócrates e seus amigos, que apresentam o método dialético de investigação filosófica. Por meio de aproximações sucessivas, o mestre discute a organização da sociedade, a natureza da política, o papel da educação e a essência da justiça.
Sócrates conta que os homens estão acorrentados no fundo de uma caverna escura. Por trás deles, um fogo arde, irradiando uma luz que se projeta no interior da caverna. Nas paredes, podem ser vistas formas humanas se movendo. Os homens que estão no interior da caverna pensam que o que veem é a realidade, mas veem apenas sua própria sombra. Pensam assim porque não conhecem outro mundo. Com essa alegoria, Platão compara a caverna ao mundo onde vivemos, que é o mundo das aparências. A luz da verdade (as Ideias ou as Formas) projeta sombras (coisas sensíveis que tomamos por verdadeiras). Estamos presos. No entanto, o filósofo é capaz de escalar o muro para contemplar a luz plena. Essa luz é o Ser; o Bem; é essa a luz que ilumina o mundo inteligível (que se pode conhecer).

O mito da caverna

Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permancer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe; numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no gênero tapumes que os homens dos “robertos” colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.
(...) estranhos prisioneiros são esses (...) semelhantes a nós (...) pessoas nessas condições não pensaram que a realidade fosse senão a sombra dos objetos.

PLATÃO. Livro VII. In. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 3. ed. 1980, p. 317-8.

A ideia do Bem

Pois segundo entendo, no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que no, mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhor; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública.

PLATÃO. Livro VII. In. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 3. ed. 1980, p. 321.

A Teoria das Formas ou das Ideias

A doutrina pela qual Platão é mais conhecido é sua teoria das Formas ou das Ideias, termos que, dentro de seus propósitos, significam a mesma coisa. (...)
Faz-se referência ao fato de que Sócrates, quando perguntava “Que é beleza?” ou “Que é coragem?”, não estava tentando precisar a definição de uma palavra, mas procurando descobrir a natureza de alguma entidade abstrata que realmente existia. Não considerava que essas entidades estivessem em algum lugar, ou em algum tempo específico, mas como detentoras de algum tipo de existência universal independente de lugar e tempo. Os objetos belos individuais que existem em nosso mundo cotidiano e as ações corajosas particulares que as pessoas individualmente praticam são sempre fugídios, mas compartilham a essência atemporal da verdadeira beleza ou da verdadeira coragem; e estes são ideais indestrutíveis, com existência própria.

MAGEE, Bryan. História da filosofia. São Paulo: Loyola, 2001. p. 27.

LIÇÃO 1 – A FILOSOFIA

O NOME É

Platão

Platão era de origem aristocrática e tinha antepassados ilustres. Recebeu educação primorosa, reservada àqueles destinados a participar da vida política de Atenas. Ainda jovem conheceu o filósofo Sócrates, com quem conviveu por quase dez anos. Em 399 a.C., presenciou o dramático processo contra o mestre, que foi acusado de corromper a juventude e condenado à morte, ingerindo cicuta. Platão registrou esse processo na bela obra Apologia de Sócrates.
Depois da morte de Sócrates, Platão viajou para a Itália, o Egito e outras cidades gregas. Empreendeu uma série de viagens a Siracusa buscando fundar um Estado-modelo governado por um rei filósofo, mas não conseguiu realizar seu intento.
Instalado em Atenas, fundou uma escola, em 387 a.C., chamada Academia, por estar situada nos jardins do filósofo Academos. A partir de então, passou a dedicar sua vida ao ensino e à Filosofia. Sócrates foi protagonista de todos os diálogos de Platão e tema da maioria de suas obras. Como Sócrates não deixou obra escrita, tudo o que sabemos a seu respeito foi registrado por Platão.
Platão morreu aos 81 anos de idade, em Atenas, em 347 a.C. Também deixou um discípulo, Aristóteles.
A obra de Platão é uma das mais conhecidas e influentes de toda a história da Filosofia. É composta de dezenas de obras, entre as quais estão Banquete e A República. Seus diálogos têm o nome do personagem principal, que também é o principal interlocutor de Sócrates.

Principais obras:

As datas precisas das obras de Platão (427 a.C. a 347 a.C.) não foram estabelecidas pelos especialistas. As obras que seguem obedecem aproximadamente a uma ordem cronológica.

Apologia de Sócrates; Eutífron; Críton; Protágoras; Górgias; Banquete; Fedro; A República; Parmênides; Teeteto; Sofista; Política; Timeu.